Glossário e comentários

O objetivo deste glossário é ajudar a entender os termos que encontrará no decorrer de suas leituras. Se você encontrar algum termo não incluído no glossário, por favor, avise para que eu possa mante-lo adequadamente atualizado.

Áte – significa cegueira da razão – ver adiante o étimo hybris, com a contextualização de como áte se manifesta.

Atená, do grego Athena, originariamente é apresentada como uma deusa cretense, associada a árvore e também à serpente, como deusa da vegetação. Aparece bem mais tarde, na civilização aquéia (de Micenas) como a deusa guerreira, com um enorme escudo que cobre todo o seu corpo. É natural que assim se apresente a essa civilização, já que os micênicos eram fundamentalmente um povo guerreiro. Torna-se, a partir daí, a defensora das acrópoles (cidades) micênicas e, mais tarde, da Acrópole de Atenas, quando se torna sua protetora.  Seu outro nome, Palas Atená,  a Atená defensora, mostra bem essa característica. Atená é resultado do casamento de Zeus e Métis (sua primeira esposa). Tendo Métis engravidado, Zeus teve medo que o fruto desse casamento o destronasse, como fez com seu pai e devorou Métis. Assim, a gestação de Atená deu-se indiretamente no ventre do pai. Ao chegar a hora de seu nascimento, Zeus sentiu uma tremenda dor de cabeça e, alucinado, pediu ajuda de um de seus filhos Hefaístos, o ferreiro dos deuses, que partiu sua cabeça e dela saiu Atená, adulta e guerreira. Atená é, assim, nascida da mente de Zeus e representará a luz da razão e da justiça, além de guerreira. Defenderá sempre seu pai, sob qualquer circunstância, pois representa, como seu fruto,  o aspecto patriarcal.

Caos, do grego Khaos – literalmente, abismo insondável. Segundo Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, o Caos é “a personificação do vazio primordial, anterior à criação, quando a ordem ainda não havia sido imposta aos elementos do mundo” (in Brandão, 1986, Vol. 1, 183). Ressalto, ainda, uma interessante observação de J. S. Brandão:  estar desorientado é entrar no Caos, de onde não se pode sair, a não ser pela intervenção de um pensamento ativo, que atua energeticamente no elemento primordial.” (id.ib). Esta observação de Brandão me reporta à alusão do estado psíquico desordenado, descontrolado, desorientado… que só consegue voltar à luz, através da Terra, do consciente. Oportunamente, falaremos da Terra (Gaia) como consciente e o Mar (Poseidon), como inconsciente.

Gaia,(ou Géia), Terra – também elemento primordial, a deusa “cósmica”, de onde nascem os seres. É mulher e mãe. Doce, firme, estável, submissa, humilde. Nas palavras de Brandão, é a “virgem penetrada pela charrua e pelo arado, fecundada pela chuva ou pelo sangue, que são o esperma, a semente do Céu. Concede e retoma a vida” (vol. 1, 185)

Céu – ver Urano

Ciclopes – filhos de Urano e Gaia, são eles: Brontes, Estéropes e Argeus. Monstros enormes e extremamente poderosos, trazendo a energia do trovão e do relâmpago. Os ciclopes ostentam apenas um olho no meio da testa, mas um olho que fulmina, tão fulminante como a arma que oferecem a Zeus (o raio)

Crono, do grego Kronos (etimologia incerta, mas identificado com outra palavra quase homônima, Khronos, que significa tempo), filho de Urano e Gaia, o mais novo entre os titãs, o filho caçula do casal, ajudado pela mãe, castra o pai com uma háspe (foice), jogando as partes sexuais retiradas, nas ondas do mar. Une-se com Rea, para um novo reinado sobre todos os seres, sendo derrotado por Zeus, ajudado por uma união entre os irmãos.

Dia, em Grego. Hemera,

Deméter – do grego Deméter, de etimologia incerta. Foi entendida pelos antigos com guê méter (deusa e mãe da terra cultivada – guê, no dialeto dório = dê, que significa terra; méter = mãe). O culto de Deméter está vinculado ao ritmo das estações e aos ciclos de semeadura e colheita, principalmente dos cereais, em especial, o trigo. Os cultos mais antigos a esta deusa se celebravam em Elêusis, com disputas atléticas, talvez as mais antigas da Grécia. Aos vencedores eram oferecidas medidas do trigo sagrado, colhido nas planícies de Raros, local consagrado à deusa. Dos rituais a ela consagrados, sempre se destacaram o trabalho de preparação da terra, a semeadura e a colheita.  Uma das festas mais significativas, no entanto, eram as Termofórias (thesmós = instituição sagrada, lei; phéreion = levar, produzir, estabelecer). Segundo estas comemorações, Deméter se estabelece como a “legisladora”, pois, tendo ensinado aos homens a cultivar os campos, também instituiu o casamento, fundando a sociedade civil. Esta festa era reservada às mulheres casadas numa analogia da fertilidade do seio materno com a fertilidade da terra.

que significa dia, é uma divindade feminina que complementa Éter, ambos gerados por Nix. Ao contrário de Érebo que conserva as profundezas das trevas, Nix gera Dia, formando com ela um ciclo uniforme: a noite cede espaço gerando o dia e este se ausenta, na presença da noite.

Érebo, do grego Érebos, significa trevas infernais (Brandão, 1986, 190) filho gerado diretamente de Caos. Representa o negro absoluto, em seu estado mais puro (Vernant, 2000, 23). Seu oposto será Éter, que representa o lugar do Céu onde jamais há a escuridão. Mais tarde, Érebo será identificado como uma das partes do Hades, a do meio, que se mantém em trevas permanentes. É irmão de Nix, gerada também diretamente de Caos. (ver Nix)

Erínias, nascidas do sangue proveniente da castração de Urano por seu filho Crono, são seres que se dedicam a perseguir e castigar todos os que cometem crimes consanguíneos.

Éris, significa conflito, contenda sob todos os aspectos. O termo é proveniente dos personagens que encarnam a violência, o combate, a guerra, o castigo, a devastação. Essa energia é advinda do sangue derramado na terra pelos órgãos sexuais de Urano, depois de castrado por seu filho caçula, Crono. Deste sangue nasceram três tipos de seres: os Gigantes, as Melíadas (ninfas) e as Erínias. As Erínias se dedicam especificamente aos crimes consanguíneos.

Éros, significa inicialmente, impulso primordial do universo. Nesse sentido é reconhecido como “Amor Primordial ou Amor Velho”, do início dos tempos, coincidindo com o aparecimento de Gaia. Mais tarde, passou a personificar do deus do amor, ligado a Afrodite. Neste sentido, representa o desejo impulsivo dos sentidos. (Brandão, vol. 1, 186-7)

Éter, do grego aither, é proveniente de um verbo, aithen, que significa brilhar, iluminar. Represetna a camada superior do Cosmo, personificando o Céu superior, onde a luz é mais pura e brilhante, ao contrário da camada mais próxima da terra, dominada pelo ar.

Hades, o deus dos infernos – do grego Hádes, de etimologia incerta. Com base na etimologia popular, sem base filológica atestada, foi erradamente traduzido por “invisível, tenebroso”. Brandão (vol. 1, 311) prefere aproximar o termo do étimo aianés que significa cruel, terrível, violento. Após a luta contra os Titãs, o universo foi dividido entre os três irmãos, cabendo a Zeus o Olimpo, a Posídon o Mar e a Hades o império localizado nas entranhas da Terra (seio das trevas brumosas), denominado etimologicamente Inferno.

Hades, domínio de Hades, o deus dos infernos. Na verdade, a descrição de Hades sofreu várias transformações, nos períodos da Grécia Antiga. No século VIII a.C. lemos, em um dos cantos da Ilíada (o que se refere ao encontro de Ulisses com Tirésias, o adivinho, e seus pais, todos mortos), que Hades era o lugar onde habitavam todos os mortos, indistintamente. Mais tarde, a descrição do Hades, como reino dos mortos, o dividia em três partes: Campos Elísios, para onde iam, por algum tempo, os que tinham algumas dívidas a purgar; Érebro, para onde também iam temporariamente os que tinham mais a pagar e, finalmente, o Tártaro, para os que tinham crimes horrendos. Nos dois primeiros casos, seriam, depois, levados para a Ilha dos Bem-Aventurados, ondem teriam uma vida isenta de preocupações). Os que fossem para o Tártaro permaneceriam ali para sempre, sob suplícios eternos. Alguns heróis e deuses imortais, no entanto, foram lançados temporariamente no Tártaro, sendo depois resgatados.(Brandão, vol. 1, 186 e também 171).

Hecatonquiros, do grego Hekatonkhiros, também denominados Cem-Braços – filhos de Urano e Gaia, são eles: Coto, Briareu, Gies. São monstros gigantescos de cem braços e cinquenta cabeças, sendo que cada braço é dotado de uma força descomunal e mãos que são capazes de espremer, quebrar e dominar as criaturas do mundo.

Hefesto – etimologia desconhecida, é filho de Hera e Zeus. O mito conta que Hera, por cólera contra o esposo, por causa de uma de suas conhecidas traições, gerou Hefesto sozinha. Em uma das versões mitológicas, conta-se que numa briga entre Zeus e Hera, Hefesto colocou-se entre os dois tentando apartá-los. Zeus, em sua fúria, deu-lhe um empurrão tão forte que os fez despencar-se do Olimpo, o que lhe provocou muitas feridas, inclusive na perna, tornando-se manco para sempre. Em conseqüência disso, passou a servir de chacota para os  outros deuses. Hera, enfurecida pelo que aconteceu com seu filho, pediu retratação a Zeus que o transformou no ferreiro do Olimpo, o grande artesão, responsável por criar os raios poderosos usados por seu pai. Além disso, Zeus também concedeu-lhe como esposa a formosíssima Afrodite, deusa do amor.

Hemera – ver Dia

Hera do grego Héra, de etimologia controvertida, segundo Brandão (Brandão, vol. 1, 279) talvez da mesma raiz de Héros (herói), neste caso, significando Protetora, Guardiã. Como seus irmãos, foi engolida por Crono e salva graças ao estrategema de Métis. Após ter destronado o pai Crono, Zeus a desposa. Hera foi a terceira esposa de Zeus (que já havia se unido, antes, a Métis e Têmis) e, a partir dessa boda, como legítima esposa do “pai dos deuses e dos homens”, Hera passou a ser a protetora das esposas, do amor legítimo, do casamento. Pelas outras deusas, sempre foi retratada como violenta, ciumenta e vingativa, já que perseguiu ferozmente todas as amantes de Zeus.

Héstiado grego Hestia, significa deusa da lareira no sentido estritamente religioso, personificação do fogo colocado no centro do altar, localizada no meio. Representa o culto pré-helênico do lar. Junito Brandão a indica como representação do centro religioso do lar dos homens e dos deuses, personificando o fogo sagrado.

Hybris – do grego hybris, significa desmedida, uma violência do homem contra os deuses, por ter ultrapassado a sua medida (metron) como ser humano. A hybris desencadeia a némesis (ciúme divino e consequente punição pela desmedida praticada). A punição leva o homem, através da  áte (cegueira da razão) a agir demodo que tudo que faça o conduza à desgraça inevitável, realizando apenas ações que o levem a agir contra si mesmo, caindo nas garras da moira (destino cego).

Métis, do grego metis, filha de Têmis  e do Oceano, Métis representa a Prudência. Métis será a primeira esposa de Zeus, com quem conceberá Athena (deusa da justiça, a guerreira). Tão logo engravida, Zeus, temeroso de que ocorra com ele o mesmo que ocorrera com seu pai, ou seja, que o fruto concebido o destrone, engole Métis. Tendo Métis em seu ventre, Zeus, absorve dela a sabedoria da prudência que é o que o caracteriza como deus dos deuses e dos homens. O fruto desse amor será Atená que nasce, então, da cabeça de Zeus.

Metron – significa medida – ver o étimo hybris com a contextualização de como metron se manifesta

Moira – significa destino cego – ver o étimo hybris com a contextualização de como moira se manifesta

Náiades – ninfas dos ribeiros e riachos, geram e criam grandes heróis. Vivem em cavernas, grutas e lugares úmidos. As cavernas, embora evoquem um ambiente lúgubre, estão relacionadas a locais próprios para iniciações, onde “se morre” para um renascimento para uma nova vida. É interessante ressaltar que, sob o ponto de vista da personalidade, as ninfas representam uma expressão de aspectos femininos do inconsciente. Na criação do Universo, foram as Náiades que criaram Zeus, a elas entregue por Réia para o esconderem de Crono, enquanto crescia e se tornava adulto e forte o suficiente para destronar o pai.

Némesis – significa ciúme divino – ver hybris com a contextualização de como némesis se manifesta

Nix, do grego Nýks, significa noite. Personifica a deusa da noite. Irmã de Érebo (ver Érebo), gerada como ele diretamente de Caos. Mas enquanto Érebo (trevas) “personifica as trevas subterrâneas, Nix personifica as trevas superiores, de cima” (Brandão, 1986, vol.1, 190). Nix gera Éter e Dia (Hemera), ou seja, gera a luz. enquanto Érebo permanece senhor da escuridão subterrânea.

Olimpo – monte Olimpo, morada dos deuses gregos.

Prometeu – Foi o herói responsável por enganar Zeus em benefício dos mortais. Zeus, enfurecido, privou os homens do fogo (simbolicamente, da inteligência – trataremos desse mito futuramente). Prometeu com um ardil roubou uma centelha do fogo divino e o devolveu aos homens. Por esse feito foi duramente castigado pelo deus: suspenso nas rochas, uma águia lhe devorava o fígado durante o dia e o fígado era reconstituído à noite para ser devorado, novamente, durante o dia seguinte. Prometeu foi salvo por Héracles, mais tarde, com a anuência do próprio Zeus, desejoso de saber um segredo que Prometeu guardava como única possibilidade de seu resgate. Eventualmente, falaremos desse mito, mais tarde.

Posídon, do grego Poseidon, de etimologia incerta. Brandão (vol 1, 321) aponta Carnoy como autor responsável pela origem do termo no dialeto dórico Poteidan (pósis = senhor; Dan = água), como um vocativo, significando um brado ao “senhor das águas” (água ainda permanece como designativo de rio em várias línguas como Don, Danúbio, Dnieper, por exemplo). Após a guerra contra os Titãs, na divisão do Universo, coube-lhe o domínio do Mar. Posídon que na luta contra os Titãs ficou conhecido como o “sacudidor da terra”, passou a ser o “sacudidor do mar”, recebendo o privilégio de ser também o domador de cavalos e salvador de navios. A ele foi associado, também, a figura do Touro, associado às forças subterrâneas.

Réia, do grego Rhéa – da raiz uréia  (ampla, larga, cheia), uma das Titânidas, irmã de Crono, com quem se casa após Crono tomar o poder de seu pai Urano. Simboliza a energia escondida no seio da Terra. Gerou os deuses dos quatro elementos. É a fonte primordial ctônia de toda a fecundidade (Brandão, vol.1, 201).  Obs.: os mitólogos modernos usam o termo ctônia para designar a maior parte das divindades do mundo subterrâneo  (SCHMIDT, Joël. Dicionário de Mitologia Grega e Romana. Lisboa: Edições 70, 1994 In Dicionário de Mitologia de Sérgio Biagi Gregório – http://sites.google.com/site/dicionariodemitologia/ctonia)

Tártaro, do grego Tártaros é uma palavra de etimologia desconhecida. É reconhecido como o espaço mais profundo das entranhas da Terra. muito abaixo do Hades, ou seja, do próprio inferno. Melhor descrição – ver na palavra Hades, deste glossário. (Brandão, vol. 1, 186)

Têmis, do grego Themis = lei divina ou moral, justiça, em oposição a nomos = lei humana. Têmis é a segunda esposa de Zeus, após Métis, sua filha. Têmis foi mãe das Horas e das Moiras. Personificando a justiça, é a conselheira de Zeus. Esquilo faz referência a que Prometeu também teria sido fruto desse casamento.

Titânidas – filhos de Urano e Gaia, são elas: Téia, Réia, Mnemósina, Febe, Tétis

Titãs – filhos de Urano e Gaia, são eles: Oceano, Ceos, Crio, Hiperíon, Jápeto, Crono

Urano, do grego Ouranós (Céu) – abóboda celeste, gerado diretamente por Gaia, constituindo com ela o casamento primordial sagrado.

Zeus, do grego Zeús, significa “o deus luminoso do céu”. É reconhecido como a divindade suprema, senhor do Céu e da Terra. Destronou seu pai Crono com a ajuda dos irmãos e outras divindades, após terríveis batalhas, principalmente contra os Titãs. Após a vitória, dividiu o Universo com seus irmãos e, por sorteio, coube a Posídon o mar, a Hades o mundo subterrâneo (conhecido como Hades) e a ele, Zeus, coube o Olimpo, tornando-se, assim, o pai dos deuses e dos homens.

Referências Bibliográficas:

Brandão, Junito de Sousa. Mitologia Grega, vols. 1, 2 e 3. Petrópolis, Vozes, 1986

Grimal, Pierre. Dictionnaire de la mythologie grecque et romaine. Paris, Presses Universitaires de France, 5 ed., 1976

Vernant, Jean-Pierre. O universo: os deuses, os homens. São Paulo, Companhia das Letras, 2000.

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Uma resposta para Glossário e comentários

  1. Carmen Lucia Fernandes Vianna disse:

    Realizando um sonho,aprender mitologia grega com você é um privilégio.Estou fascinada e feliz. Foi muito bom,lembrar do Junito,meu grande amigo,senti uma saudade enorme.tenho certeza que será um grande sucesso,vou divulgar para os amigos que sei gostar do assunto.até o próximo,que espero seja breve.Carmen.

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